Carta aberta: Temos o apoio do público, falta o do Estado
Dia Mundial do Teatro
A desigualdade entre a cultura gerida pelo Estado e a cultura sustentada por privados é cada vez mais evidente.
Enquanto as entidades públicas têm garantias financeiras, os agentes culturais independentes enfrentam diariamente o desafio de vender bilhetes, garantir a estabilidade das equipas de trabalho, manter as infraestruturas, assim como preservar edifícios históricos para continuar a trabalhar em prol da cultura.
Além disso, há entraves vindos de programadores que dificultam ou até censuram projetos, tornando as digressões mais complicadas e impedindo que os espetáculos cheguem a toda a população.
Poucos sabem que os fundos do PRR não contemplam as empresas privadas que atuam no setor cultural. Um exemplo gritante é o Teatro Tivoli: um edifício classificado como monumento de interesse público, mas sem acesso a qualquer programa de apoio para a sua manutenção.
Este ano, marcado por diversas eleições, traz um novo obstáculo: o próprio Estado (através de partidos, câmaras municipais e juntas de freguesia) torna-se o maior concorrente dos teatros e salas de espetáculos, ao oferecer eventos gratuitos com fins políticos. Enquanto isso, as empresas privadas continuam em desvantagem.
Diante desse cenário, resta-nos continuar a trabalhar e a vender bilhetes, pois o único verdadeiro apoio que temos é o do público.
Para obter algum tipo de apoio oficial, é preciso enquadrar a cultura como um fator económico ou turístico. Hoje, abrir um centro de reuniões ou um hotel é mais fácil do que abrir um teatro. Muitas vezes, a única solução viável é submeter projetos culturais como parte de empreendimentos turísticos, como hotéis que, por acaso, incluam um teatro para reuniões e atividades culturais.
As salas necessitam de ajuda para se manterem. A programação privada deve ser autossustentável, mas sem salas não existem espetáculos.
Paulo Dias
Diretor-Geral da UAU e Administrador do Teatro Tivoli
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