Foi no dia 27 de novembro de 2021 que se celebraram 10 anos sobre a data em que a Unesco declarou o Fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade.
O conjunto de artistas que se ouviram e que bem podem representar as Lendas do Fado foram brilhantemente apresentados por outra Lenda, uma da Radiotelevisão portuguesa, Júlio Isidro. Numa mistura do profissional com o humor, Júlio Isidro deu a conhecer as oito Lendas, bem como o próprio Fado.
O apresentador referiu que as letras vêm mostrar tudo aquilo que tem vindo a acontecer ao longo de tantos anos na construção do fado, referindo que este espectáculo é uma homenagem natural a todos aqueles que escreveram e interpretaram o Fado, músicos ou poetas, e também que todos os que cultivaram o Fado estão de parabéns.
Alexandra teve o privilégio de dar início a uma noite magnífica de fado, interpretando temas como “Perseguição”, “Fado Menor do Porto” e “Se os Meus Olhos Falassem”, com este último tema cometeu a proeza de levar Júlio Isidro a cantar o refrão.
Agradece dizendo “que foi uma honra, um privilégio terem-na convidado para estar no meio de Lendas do Fado”.
Sobre Alexandra, o apresentador, referiu que é alguém que lhe diz muito, começou a ouvi-la quando veio de Moçambique para Portugal e lembra-se perfeitamente das 5 vezes em que ela participou no Festival da Canção. Nunca ganhou, mas as suas canções ficaram sempre no ouvido do público. Refere que pouca gente saberá que ela participou no coro do “Esteves” (Herman José), entretanto convidou-a para ser cantora residente do seu programa “Regresso ao Passado“, para cantar essencialmente Fado, papel que relutantemente aceitou. Correu tão bem que em 1999 foi convidada para interpretar o papel de Amália no musical “Amália”, papel que fez durante 6 anos, no Teatro Politeama.
António Pinto Basto foi a segunda Lenda a apresentar-se e sobre este refere o apresentador: começou por ouvir fado aos 13 anos numa festa dos Salesianos, em Évora, foi amor ao primeiro ouvido, de tal modo que disse aos pais “eu gostava de ter uma casa de fados em casa”, e estes improvisaram uma casa de fado em casa “A Toca”. Formou-se em Engenharia mas chegou à conclusão que a única engenharia que lhe estava na alma, era o Fado, e em 1988 gravou “Rosa Branca” musica que foi “apenas” disco de platina, o que corresponde a mais de 100 000 discos vendidos e nesse mesmo ano fez 170 espectáculos, sou grande admirador dele, gosto muito dele e ultimamente tenho apanhado o “eléctrico 28”, nome do seu último trabalho.
O Fadista encantou com “Rosa Branca“, “Aquela Névoa” e “O Homem do Ribatejo“, este último tema com versos de Rosa Lobato Faria.
Sobre este espectáculo refere “como uma noite tão fria como esta pode tornar-se uma noite tão quente de Fado”, e despede-se, com um ”Até Sempre”.
Nasceu na Marinha Grande e aos 16 anos já cantava nos Emissores Norte Reunidos. Tem, talvez, o maior número de participações em Festivais, no Festival da Canção participou por 2 vezes, mas foi em festivais internacionais que mais se destacou, esteve em Espanha em Aranda Del Duero (2 vezes, pelo menos), na Polônia, no México, na Grécia onde recebeu o prêmio de Melhor Intérprete, recebeu também o Prémio de interpretação atribuído pela Fundação Amália Rodrigues, tem a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa e gracejando conta que Ela traz sempre muitos “ourosinhos” sempre muitos “cachucos” nos dedos, que ela tem uma essência muito especial, uma água de colónia que é fascinante, que ele cheira e desmaia habitualmente, gerando gracejos e risos do público. Tem o maior prazer de apresentar, não só, uma grande amiga mas uma enorme “cantora de Fado que diz que precisa de espaço”, sendo que o que Ela precisa é de “Espaço para estar a Cantar”.
É assim que nos apresenta Lenita Gentil, a voz que não precisa de microfone, a terceira Lenda a subir ao palco do Coliseu, que não resiste a mostrar ao público o seu cachucho, gerando assim mais gargalhadas.
Canta “Preciso de Espaço” e sobre o certame refere “é um prazer enorme estar aqui, no Coliseu, numa das Casas mais emblemáticas de Lisboa, a celebrar os 10 anos da elevação do Fado a Património Imaterial da Humanidade. O Fado é realmente uma canção nossa, a Guitarra Portuguesa está normalmente associada ao Fado mas, quanto a ela fadista, a Guitarra Portuguesa é dos instrumentos mais bonitos que conhece, um instrumento que toca todo o tipo de música”.
Seguiram-se “Fado Pechincha” que é um velho Fado da Mouraria, e “Tarde Triste no Campo Pequeno”.
Entre apresentações das Lendas Júlio Isidro apresentou os fantásticos músicos que acompanharam as Lendas, na Guitarra Portuguesa Bruno Chaveiro, na Viola, João Filipe e na Viola Baixo Francisco Gaspar, referindo que é tudo gente nova, os instrumentistas do Fado estão a ser cada vez mais, mais jovens e cheios de qualidade.
Seguiu-se um dos momentos mais bonitos da noite, a apresentação da quarta Lenda do Fado, João Braga.
E sobre este fadista diz Júlio Isidro: Começou por cantar no coro de São João de Brito, depois foi para Cascais e começou a cantar como amador num grupo de fado amador, ganhou o primeiro Cachet nas festas de Coruche, foram 1000 escudos (5 euros) em 1965, e em 1967 estreou-se num programa da RTP de um tal Júlio Isidro (risos) um jovem que andava por lá a apresentar novos talentos e também o encontrou num lançamento de um disco muito importante da sua carreira, na casa de Fados “O Empossado”. Gostaria de ser advogado, mas deixou a advocacia e virou-se para o fado, com uma carreira absolutamente brilhante, para além de todas as qualidades que tem é também um extraordinário sportinguista. Refere que foi Alfredo Marceneiro que deu o mote para o “É tão bom ser pequenino”, mas foi peremptório para ele, João Braga, o Fado é “tão bom gostar do Fado, é tão bom cantar o Fado”.
E em palco um João Braga, visivelmente debilitado, mas com uma voz extraordinária cantou e encantou com “Fado Lisboa”, “Fado Carnaval” poema de Alexandre O’Neil e “Fado do Estudante”.
João Braga referiu-nos a alegria enorme de ali estar (no Coliseu), conta-nos que o Fado é uma transmissão de emoções, que já lá vão 65 anos desde o primeiro disco, e quando o público o acarinha com palmas, ele refere que não pretende arrancar palmas mas depois de tanto tempo confinado é muito bom estar em cima do palco.
Júlio Isidro regressa ao palco para apresentar a seguinte Lenda do Fado, dizendo: a próxima que vem aí é também uma Voz extraordinária do Fado, esteve à pouco tempo no programa “Inesquecível”, na RTP Memória, e essa senhora canta extraordinariamente bem e particularmente cantou numa revista “Meninos vamos ao Vira” em 1978 o tema a “Bia da Mouraria”, era o tempo em que as Revistas começavam às 9h da noite, a primeira sessão terminava pelas 3, 4 horas da manhã e repetiam-se continuamente, ora porque eram bons, muito bons ou maus, No caso do tema da “Bia da Mouraria”, esta Senhora cantou o tema 8 vezes, por ser muitíssimo bom. Além disso, canta também em colectivo com grandes vozes, no projecto “4 Cantos” com António Pinto Basto, com Zé da Câmara e Teresa Tapadas e com o “Entre Vozes”, um projecto só com mulheres, Maria Alice e Lenita Gentil.
Tem um disco com letras exclusivas de José Carlos Ary dos Santos, o “Pão Caseiro”, que é um disco realmente extraordinário. O apresentador referiu que lhe pede muitas vezes para ela cantar um fado, que hoje não cantará, mas que é muito saboroso é o “Fado do Cozido À Portuguesa”, com cara séria conta que é extraordinário para um poeta ser capaz de, a propósito de farinheiras e chouriços e enchidos (muitos risos) fazer um poema extraordinário, só acontece a alguns eleitos e Júlio refere que só começa a gostar do cozido à portuguesa depois de ter ouvido este fado (mais risos).
Fala de Maria Armanda que depois de ter cantado o Fado “Lençóis da Lua”, se dirige ao público dizendo: “Que bom ver tanta gente, foi nesta grande sala há muitos anos, que comecei nas cantigas… espero que tenham um serão agradável”. Seguiram-se os temas “Fado Primavera” e como não podia deixar de ser “Bia da Mouraria”.
A sexta Lenda do Fado a apresentar-se no palco do Coliseu foi Paulo de Carvalho e sobre este refere o apresentador a única coisa que pode dizer é que se conhecem desde os tempos do Vavá, considerado catedral da música e do novo cinema português, tinham 16, 17 anos e também tocou logo num programa de televisão, tem uma flor sem tempo na lapela, e que não direi que ele é um fadista, porque ele é tudo, se o mandar cantar ópera, ele canta, se for folclore também , se for blues também, pois ele tem magia na voz, e independentemente disso também lhe devemos o podermos estar aqui à vontade pois também nos cantou “E Depois do Adeus”. Também escreve coisas, um dos melhores espectáculos de apresentação de um disco que vi foi “O Homem da Cidade”, com o Carlos do Carmo e tem lá a assinatura deste Senhor, poemas como “O Homem das Castanhas”, “Os Putos” ou estes “Putos à Volta da Fogueira”. Bem, não posso dizer mais nada, pois seria absolutamente redundante com alguém que tem 60 anos de carreira e continua em grande actividade, e que não se vislumbra, sequer, o dia de “E Depois do Adeus”.
E, já em palco, Paulo de Carvalho deu tudo com “Os Meninos à Volta da Fogueira”. Paulo disse que é maravilhoso cantar com os músicos que estão em palco, que dá gosto cantar com gente nova, muito importante para o nosso fado, que respeita o passado mas com olhos no futuro.
O artista refere que, “e não é conversa de circunstância, mas estou muito, mas muito orgulhoso de que se tenham lembrado de mim porque, ainda que eu tenha feito algumas cantigas que vocês consideram fado, eu não sou do canto do Fado, sou do canto da música, mas gosto muito de fado e há fados que ficam na memória das pessoas, alguns cantados por mim outros cantados por companheiros de profissão, que os celebrizaram mas hoje tinha que fazer um desafio a mim próprio e canta à sua maneira, no que julga saber ser o tom das mulheres (Ré)” o fado “Uma Canção”. Seguiu-se “Lisboa, Menina e Moça”.
Sobre a sétima Lenda do Fado a subir ao palco diz o apresentador, veio do Porto, desceu a Lisboa, conquistou Lisboa e a partir daí conquistou o Brasil, conquistou Hollywood onde contracenou com Robert Wagner onde cantou o fado “Cantarei até que a Voz me Doa“. Tem feito interpretações notáveis na sua Casa de Fados “O Senhor Vinho” e há que dizer que ela é uma espécie de Júlio Isidro do Fado, porque na sua casa de Fados tem estreado grandes fadistas que depois têm grandes carreiras. Ainda sobre ela disse Vasco de Lima Couto: “Ao Norte abriste a voz ao Sul achaste-a num Fado, a que te deste de corpo e alma” e também sobre ela disse David Mourão Ferreira: “O Fado é Maria da Fé”.
E Maria da Fé actua no palco do Coliseu para cantar “Valeu da Pena”, “Fado Errado”, um cheirinho de “Cantarei até que a Voz Me Doa” terminando com “Divino Fado”.
Entre fados a fadista revela que tem 79 anos de idade, tem 60 anos de fado, que se sente muito feliz por estar a pisar o palco do Coliseu dizendo para um público, rendido a tantas Lendas, que aceitou este projecto porque “a minha vida é um Fado, sou toda Fado”.
Na apresentação da última Lenda, Júlio Isidro diz envelhecer é muito desagradável mas o contrário é bastante pior, continua dizendo que este espectáculo, que hoje está aqui ser feito com bastante público apesar do frio, apesar dos medos da pandemia, se repetisse no Porto ou noutras cidades, porque estas Lendas do Fado têm que ser aproveitadas até ao último momento das suas vidas, porque viver é isso, e sobretudo mostra aqui não há decadência aqui há cadência do Fado.
A próxima Lenda não ganhava concursos aos 12 anos, trabalhava numa fábrica de automóveis, e aos 19 anos ia para França, e mais tarde cantava num grupo 5 Reis, cantava canções do folclore latino, depois foi parar a Cascais, onde cantava em tertúlias com a Teresa Tarouca, com o João Braga, Carlos Zel, e outros tantos nomes do fado e por lá ficou onde foi abrindo casas de Fado, sendo a mais notável, a que ficou na nossa memória O Forte Dom Rodrigo, onde recebeu os maiores nomes do Fado até agora, alguns dos que aqui cantaram hoje estrearam-se no Forte Dom Rodrigo.
Ele não é um cantador de Fados, ele é um Contador de Fados. Sou suspeito, porque sou amigo dele e sou vizinho, e ele é um Rei. A última Lenda a entrar em palco é Rodrigo.
“Marcha do Marceneiro” e “Morena dos Olhos Verdes”, são os dois fados com que o fadista inicia a sua actuação.
O fadista é muito acarinhado pelo público, que devolve esse carinho conversando um pouco com ele. Sobre ele diz que está à uma vida inteira a cantar o fado, 62 anos, e que se há alguma coisa que eu sei fazer é cantar o fado.
Tem uma palavra a dizer quanto aos músicos que acompanharam as Lendas, que têm postura em palco, respeitar o público, eles (guitarristas) estavam na primeira fila quando foi distribuído o talento.
Sobre o público presente diz que querem é sair, querem é festa, querem lá saber do vírus. Os artistas estão há dois anos parados, sem poderem trabalhar, sem ganhar um tostão. Agora toda a gente anda a fazer festas, hoje é dia do espectáculo, é a ânsia de ouvir alguém cantar, porque de ouvir alguém a chorar estamos nós fartos.
E o fadista continua confirmando que há Lendas do Fado, que as pessoas consideram todos os colegas que ali hoje cantaram, e ele, Lendas do Fado. Diz: “Eu gosto de ser uma Lenda, tudo o que fiz. O Fado deu tudo. Não sei que mais poderia ter dado e graceja referido, olha que me dê saúde, se puder, que eu agradeço“.
Revela que na caminhada da vida foi convidado para um Porto de Honra com a Rainha de Inglaterra, eu e mais 80 diz (muitos risos), mas o fadista remata: num país com 10 milhões, por algum motivo escolheram estes 80, e não foi porque devesse dinheiro a alguém (mais risos).
Continua falando com o público, vocês sabem que eu tenho um selo nos Correios, eu e a Maria da Fé, com a nossa face? “Coisas que conseguimos, por qualquer razão… por isso vejam a satisfação que me dá estar aqui hoje, esta noite, convosco.” Rodrigo termina a sua actuação com “É tão bom ser Pequenino”.
Na recta final o apresentador termina com um agradecimento especial a todos os técnicos que estão por detrás dos artistas, àqueles que fazem com que os artistas brilhem.
Todos os fadistas são chamados ao palco, para um miminho especial por parte da produção do certame.
Refere o apresentador que As lendas do Fado estão ali, foram estes oito a participar, poderiam ser muitos mais a participar, mas estes são realmente notáveis, só desejava que este espectáculo se repetisse e em particular se estivessem umas câmeras das três televisões que bem poderiam ter estado ali.
A terminar uma excelente noite de fado, tivemos um momento inédito, as oito Lendas do Fado homenagearam Lisboa com 2 temas, “Lisboa Antiga” e “Lisboa à Noite”.
Foi o momento de consagração das Lendas, pois todos receberam ovações de pé, de um público que demonstrou em alta voz a sua satisfação perante tão bom espectáculo.
Uma palavra para o público presente, sem dúvida, apreciadores e conhecedores do Fado, que sem excepção deram todo o seu carinho, emprestaram a sua voz, às oito Lendas do Fado que actuaram no palco do Coliseu, contribuindo assim para uma excelente noite de fado, num dia tão importante, comemoração dos 10 anos de Fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade.
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