cultura

Concertos inclusivos do FIMUV levam ética Ubuntu a escolas e CERCI de Santa Maria da Feira

Experiência inclusiva prevê ainda concerto final com LGP para o público em geral

Na sua última semana de programação, a 44.ª edição do Festival Internacional de Música de Paços de Brandão leva música ao vivo a crianças, jovens e adultos que, por necessidades especiais ou doença, não podem deslocar-se às salas de espetáculos. Esses concertos inclusivos envolvem a filosofia Ubuntu, que parte do conceito essencial de que nenhum indivíduo vive sem consciência do outro, pois só assim experimenta a plenitude da existência em comunidade.

Eu sou porque tu és”. É este o significado da palavra “ubuntu”, adotada por várias línguas africanas e com crescente uso internacional pelo que reflete de uma filosofia de vida humanista e transversal, defensora da ideia de que o ser humano só alcança efetivamente a plenitude através da sua consciência do outro. O Festival Internacional de Música de Paços de Brandão (FIMUV) tem reforçado a sua vertente inclusiva nos últimos anos e, revendo-se nesse espírito, convidou a Academia de Líderes Ubuntu para levar concertos a estruturas de Santa Maria da Feira com necessidades pedagógicas especiais, como escolas, unidades da CERCI e a ala pediátrica do Hospital S. Sebastião. No total, de hoje a sexta-feira, serão assim cinco os concertos particularmente empenhados em demonstrar que a felicidade individual está intimamente ligada ao bem-estar alheio: dois desses espetáculos irão realizar-se em escolas de Milheirós de Poiares e Paços de Brandão, outros dois estão marcados para as CERCI de Santa Maria de Lamas e Santa Maria da Feira, e a performance final será no auditório da associação CiRAC, que é a grande promotora do festival. Esse concerto em específico contará com tradução simultânea em Língua Gestual Portuguesa e será ainda sujeito a um tratamento áudio especial para garantia de maior reverberação nos espectadores surdos.

Augusto Trindade, o violinista e pedagogo que assume a direção artística do FIMUV, defende que, “se o certame tem como missão levar a música e a cultura erudita a todos, tem que se empenhar em fazê-lo efetivamente com toda a gente, sem receio das dificuldades que possa encontrar ou de algum desconforto que possa resultar do contacto com reações mais inusuais por parte do público”. Para materializar essa estratégia, foi em 2021 convidada a Academia de Líderes Ubuntu, que já vem fazendo esse trabalho há vários anos enquanto projeto criado pelo Instituto Padre António Vieira para afirmar na comunidade educativa de 17 países o que essa organização descreve como os fundamentos “da Ética do Cuidado, da Construção de Pontes e da Liderança Servidora, através do desenvolvimento de competências socio-emocionais nos participantes”.

Com vista à disseminação dessa metodologia, os concertos inclusivos do 44.º FIMUV serão protagonizados pela própria coordenadora da Academia de Líderes Ubuntu, a cantora, compositora e guitarrista Luísa Vidal, que integrava o coletivo familiar Figo Maduro e agora faz carreira a título individual. Para Augusto Trindade, essa é “uma artista encantadora, sensível e empenhada, além de extremamente solidária e ativa entre as comunidades mais desfavorecidas, dado o seu trabalho voluntário a nível internacional”.

Como exemplo disso, o diretor artístico do FIMUV realça que Luísa Vidal já trabalhou com a organização não-governamental MOVE apoiando empreendedores locais em Timor Leste, prestou auxílio aos refugiados acolhidos no acampamento francês de Calais e desenvolveu serviço comunitário em Marrocos com a instituição Missionaires of Charity, fundada pela Irmã Teresa de Calcutá.

Para Nuno Reis, presidente do CiRAC, essas credenciais demonstram que o festival apoiado pela Direção-Geral das Artes, pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa também ao nível do seu próprio cartaz conseguiu encontrar um parceiro sensível às questões da inclusão social. “O que a pandemia de covid-19 nos demonstrou bem é que os problemas do mundo nos afetam a todos por igual, independentemente da forma como se manifestem em concreto num ou noutro ponto do planeta”, argumenta esse responsável. “Seja com a comunidade hospitalizada, com a portadora de deficiência ou com a economicamente mais vulnerável, as experiências positivas deviam ser sempre partilhadas e esta componente do FIMUV é o nosso pequeno contributo para que isso aconteça já aqui, ao pé de casa: levamos estes concertos às escolas e às CERCI para que quem lá está e não pode vir ter connosco possa, mesmo assim, partilhar da alegria que retiramos da música e da cultura”.

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