A Estrada é o lugar para observar tradições, refletir transições e induzir transformações. Um meta-lugar, entre a realidade física dessa linha e os imaginários em torno desta e de outras estradas que percorremos, enquanto nos confrontamos com elementos que nos ligam ao entendimento do território: aldeia, fábrica, monte, venda, lagar, montado, asfalto, ruína, areia, vento, céu e mar.
O Festival A Estrada acontece no ritmo dos lugares habitados pelo vai-vem quotidiano e chega a lugares inesperados. Um conjunto de visitas, caminhadas e conversas para dar a conhecer alguns lugares fundamentais para a perceção da especificidade morfológica do território e de algumas atividades, tradições e gastronomia próprias da região.
4 palcos/lugares ao longo da estrada e dos cinco dias do festival, descendo a encosta, da Serra até ao mar. Nos dias 8 e 9 de Setembro no terreiro da antiga corticeira, situada na aldeia de São Francisco da Serra, a que chamámos Palco Serra. No dia 10 de Setembro no terreiro do Lugar do Farrobo, venda, café e ponto de encontro local, a que chamámos Palco Estrada. No dia 11, no Monte do Paio – Centro Nacional de Educação Ambiental e Conservação da Natureza, situado na Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha, a que chamámos, Palco Lagoa. E, finalmente, no dia 12 no Santo André Beach Lounge, em pleno areal, com o oceano atlântico e o céu em pano de fundo.
O Festival promove a expressão dos artistas locais, e traz à terra outros que convidámos a fazer parte. Uma programação pensada sobre a relação entre as propostas artísticas programadas e cada um dos lugares do festival, de forma a potenciar outras leituras, quer do território quer das propostas artísticas. Neste território situado entre Tróia e Sines, com fácil acessibilidade desde Lisboa, importa equacionar o desenvolvimento equilibrado de toda a região, incluindo o seu espaço rural, através de atividades articuladas com o turismo de natureza, cultural e patrimonial, das quais o Festival A Estrada quer ser propulsor.
No seu ano 0, risca no território uma programação cultural que cruza as expressões artísticas locais, como o cante alentejano das Vozes d’Além Tejo e o acordeão de Maria Adélia Botelho, com outras expressões artísticas contemporâneas fundadas na tradição, como os Sampladélicos e O Gajo.
Convoca-se a música improvisada de Charlie Mancini para um diálogo com a natureza em torno da Lagoa de Santo André e junta-se Gaspar Varela, jovem talento da guitarra portuguesa, com o seu mestre Paulo Parreira, com ascendência em São Francisco da Serra, num concerto único a realizar na Praia da Costa de Santo André.
O Teatro do Mar apresenta a instalação cenográfica INSOMNIO, no centro da Aldeia de São Francisco da Serra, e o grupo de teatro de Santo André, Gato SA, sobe à serra para interpretar a obra “Os Malteses” de Manuel da Fonseca, escritor nascido em Santiago do Cacém.
A programação também propõe a visita ao Lagar do Parral, com um século de existência e hoje em dia em plena laboração, espetáculos e instalações no terreiro de uma antiga corticeira e no “quintal” da venda, café e ponto de encontro local assim como concertos, e não só, junto à Lagoa de Santo André e ao Oceano Atlântico a perder de vista.
Ano após ano, cruzar-se-ão no Festival A Estrada, memória, tradição e inovação, em interação com os lugares do festival, com os habitantes locais e com os visitantes. Ao abranger todo o território, desde a linha de festo da serra até ao mar, ao longo da estrada que liga os dois polos, o festival ambiciona definir uma ideia de território cultural alargado, assente na sua condição de faixa costeira, lida como verdadeiro ecossistema humano e paisagístico que liga a Serra de São Francisco ao Oceano Atlântico.
Promover a consciencialização coletiva dos valores endógenos de uma cultura, e conferir ao mesmo tempo um sentido coletivo à sua exposição ao mundo enquanto estratégia para a sua defesa e preservação, é uma forma de sensibilização e de educação efetiva para os valores e características que a diferenciam, ao interagir com a inteligência emocional e comportamental daqueles que a percecionam de fora. Mais dificilmente desvirtuamos e destruímos aquilo que compreendemos e amamos.