O multi-instrumentista, compositor, arranjador, produtor e poeta Paulino Vieira, teve á sua espera um auditório lotado para o ouvir, um dos responsáveis pela internacionalização da musica popular de Cabo Verde foi também decisivo quando levou Cesária Évora aos grandes palcos do mundo, deixando ainda a sua marca em centenas de projetos de artistas cabo-verdianos.
O concerto começou mesmo com uma apresentação de Paulino Vieira e a sua vontade desde o inicio da sua carreira em unir os povos lusófonos com as suas culturas, inovar e enriquecer a sua musica.
Paulino Vieira foi artista escolhido para assinalar os 10 anos de atividade da Ao Sul do Mundo, uma plataforma cultural que trabalha com artistas tão diversificados quanto Fausto Bordalo Dias, Selma Uamusse, Conan Osíris, Filipe Sambado, Moullinex, Tristany ou Paulo Flores, entre outros, além de assegurar a representação no nosso país de vários nomes internacionais de peso como a saudosa Elza Soares, Bombino, Anthony Joseph ou Gyedu-Blay Ambolley e Gregory Porter. Numa década de projetos especiais, concertos dentro e fora de Portugal, a Ao Sul do Mundo construiu uma assinalável presença no panorama musical nacional.
Paulino nasceu em 1955 em Praia Branca, São Nicolau, e cedo se dedicou à música, seguindo o seu pai, Santos Vieira, seu primeiro professor, antes de seguir os seus estudos com o mestre Jaime Rodolfo. Com 18 anos rumou a Lisboa a convite de Bana e Luís Morais, assumindo um lugar de destaque na terceira geração do coletivo Voz de Cabo Verde, nos teclados, mas também fazendo os arranjos e até composições de alguns temas, que rapidamente se tornaram clássicos, ‘Encontrarei o Amor’, uma dessas musicas que daria o nome ao álbum editado nesse mesmo ano.
Dois anos depois, quando abriu em Lisboa o mítico Monte Cara de Bana, que seria ponto de encontro de de músicos, compositores, cantores de toda a lusofonia, Paulino seria um dos artistas regulares e tocou muitos dos músicos que passavam pelo palco, influenciou gerações de músicos de língua portuguesa, que regularmente marcavam presença no espaço na Rua do Sol ao Rato, Rui Veloso, Trovante e Heróis do Mar entre tantos outros, o seu nome consta mesmo nas fichas técnicas dos Heróis do Mar ou António Variações.
Paulino Vieira um músico, arranjador e produtor de excelência tornou-se presença habitual nos estúdios em que se gravaram os maiores clássicos de Cabo Verde. Tocou em álbuns de Zezé Di Nha Reinalda, João Cirilo, Leonel Almeida e Bana, Paulino diz mesmo que perdeu a conta à quantidade de discos em que participou.
Nos anos 90, Paulino Vieira surge então associado a Cesária Évora, com o seu irmão, Toy Vieira, foi responsável por quase todos os instrumentos do clássico ‘Miss Perfumado’ que em 1992 colocou o nome da diva Cesária Évora nas bocas do mundo, gravou também ‘Cesária’ em 1995 e ‘Live À L’Olympia’ em 1996. Mas o seu nome está nas fichas técnicas tantos outros artistas como Lura, Sara Tavares entre outros.
Uma nova geração músicos, DJs e colecionadores de vinil voltaram a redescobrir os clássicos de Paulino Vieira, que nos últimos anos se tem resguardado do publico, o que tornou este concerto ainda mais especial, concerto que o musico dedicou à classe trabalhadora, a todos aqueles que normalmente ficam no escuro, escondidos, mas que tornam o trabalho, dos que sobem ao palco, possível.
Foi no entanto um concerto, para alguns, diferente, onde a morna e a musica popular de Cabo Verde não foi a estrela, embora entre notas estivesse lá, ouviu-se mesmo vido do publico, “Toca uma morna”, ao qual Paulino respondeu, não vai haver mornas, foi uma faze que terminou, assumi uma responsabilidade de levar a musica do meu pais aos quatro cantos do mundo, até em honra do meu pai, mas agora terminou, agora será outra coisa, apesar dos aplausos nem todos se mostraram satisfeitos.
Este foi um concerto diferente, Paulino Vieira, abriu o concerto dizendo “isto será um ensaio geral“, vamos tocar e talvez repetir, até ficar bem, vão poder ver como é na realidade um ensaio, podem mesmo subir ao palco e cantar connosco, justificando assim a disposição do palco e a existência de cadeiras nos palco.
Um dos mementos da noite foi, com o apoio do publico, Paulino cantou os parabéns à aniversariante, Ao Sul do Mundo com Luís Viegas a subir ao palco.
Com mornas ou não será sempre um prazer ver o genial Paulino Vieira, não seria possível melhor festa de aniversário e da musica lusófona.
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